11 de jun. de 2008

Moto flex: você ainda vai ter uma

A moto flex já roda discretamente nas pistas de testes das fábricas. DUAS RODAS experimentou duas delas e antecipa tudo sobre a estréia do sistema que permite rodar com álcool, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis

Começava o dia e a partida da Twister demorava um pouco mais que o normal para fazer o motor funcionar. No tanque, apenas álcool. Com a marcha lenta ainda irregular, acelerei para a primeira volta numa motos flex, quem diria, cinco anos depois do lançamento do sistema que mexeu tanto com o mercado de automóveis. Hoje, o domínio dos carros flex chega a 86% das vendas de 0 km. Finalmente, está chegando a vez das motos.

Viajamos a Piracicaba, interior de São Paulo, para conhecer o processo de desenvolvimento do sistema bicombustível e rodar com os primeiros protótipos montados pela Delphi, fornecedora de injeção eletrônica da indústria automotiva. Ao lado da Magneti Marelli, é a fornecedora que tem o sistema em fase mais adiantada de desenvolvimento. Não por acaso as motos que nos esperavam para a avaliação na pista eram a Honda CBX 250 Twister e uma Yamaha YBR 125. É bom explicar, não significa que serão as primeiras a serem lançadas, mas que a novidade provavelmente virá destas fabricantes. São as que há mais tempo trabalham no desenvolvimento do sistema com as fornecedoras de injeção eletrônica. A equipe da Delphi também confirma que a opção de abastecer com álcool e/ou gasolina estará disponível primeiro justamente nas motos de baixa cilindrada.

Visualmente, as únicas diferenças nas motos é o sistema de injeção no lugar do carburador, a sonda lambda (sensor de oxigênio) “plugada” na curva de escape e uma luz-espia amarela no ser ainda maior se os motores tivessem a taxa de compressão elevada como pede o álcool, mas isso exige alterações mecânicas que devem ficar para uma segunda fase do sistema flex nas motos, como já ocorreu com os automóveis. “Em 1998, os carros partiram do projeto de motor a gasolina para rodar com álcool. A taxa de compressão ficava em torno de 8:1, mas agora já chega perto de 13:1 nos flex mais recentes”, explica Campos, da Marelli.

O consumo das motos aumenta de 20% a 30% (na YBR, da média de 37 km/litro para 30 km/litro e na Twister, de 23 km/litro para 18,4 km/litro), o que ainda faz do álcool a alternativa mais econômica em boa parte do País. Resta saber se os fabricantes de motos já pensam em aumentar a capacidade dos tanques para compensar a perda de autonomia.

Não é para todas

A moto flex está nos planos das fábricas há pelo menos três anos. É um movimento natural, uma vez que a próxima fase do programa de redução de emissões de poluentes entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2009, e assim a injeção eletrônica com o catalisador será a solução para a maioria das motos. E sem a eletrônica, não há sistema flex. “A prioridade das fábricas agora é desenvolver a injeção para as motos a gasolina se enquadrarem na nova legislação”, explica o gerente da Marelli. “A tendência é quem não tem injeção adotá-la e quem já tem migrar para a bicombustível, que requer outras alterações”.

Por isso, engana-se quem imagina que no ano que vem todas as motos à venda terão injeção ou que as motos bicombustível inundarão as ruas em 2009. As conversas com os responsáveis pelo desenvolvimento na Delphi e na Magneti Marelli apontam para uma divisão no mercado: uns terão o diferencial da injeção, outros continuarão apostando no preço – como parte das marcas que trazem modelos populares da China, que já estão fazendo o possível para conseguir homologar as motos sem terem de arcar com os custos da eletrônica.

A boa notícia em tudo isso é que estamos próximos de uma nova versão do slogan “Carro a álcool, um dia você vai ter um”. Nada que soe quase como ameaça, como no tempo do Pró-álcool, em que carro a álcool significava perder preciosos minutos esquentando o motor toda manhã. Os tempos mudaram, e um “Moto bicombustível, um dia você vai ter uma” só pode soar como bom presságio. Vento no rosto, transporte rápido e num futuro próximo, ainda mais econômico.

Fonte: Duas Rodas

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